"O Teatro foi o primeiro soro que o homem inventou para se proteger da doença da angústia"

quarta-feira, maio 11, 2005

SHAKERS



SHAKERS

"John Godber regressa ao Casino do Estoril. Agora com Jane Thornton.
Pela mão da Sola do Sapato.
A mesma fórmula de Bouncers (Os Portas). Agora no feminino. Quatro actrizes, representando uma variedade de personagens, conduzem-nos a um bar-cocktail muito em voga na noite, assumindo diferentes papéis e revelando uma diversidade de caracteres e tipos sociais. Sem cenário, nem adereços, e com um tempo condensado de acção — uma noite frenética de copos, onde tudo tem lugar.

Ao longo da peça, as quatro actrizes, Inês Castel-Branco, Joana Seixas, Marina Albuquerque e Custódia Gallego, vão pondo a descoberto os amores e as vidas das personagens centrais do bar Shakers — quatro empregadas de bar, Laura, Anita, Carla e Rita —, e de todos aqueles que elas servem.

“É um espectáculo despojado que apela à participação do público”, comenta Almeno Gonçalves, encenador e também produtor de Shakers. E adianta: “É mais uma comédia, mas uma comédia que não é inocente”.

No centro desta comédia, estão então quatro raparigas da periferia, naíves, com poucas expectativas individuais e problemas de enquadramento social, para quem o casamento ainda é uma esperança de vida.

“É uma peça que aborda temas femininos. Mas não em exclusividade”, refere Almeno Gonçalves, para concluir “Shakers é um bar trendy, onde as pessoas gostam de se ver e ser vistas. É pela mão de quatro bonitas empregadas, com grandes sequelas sociais — uma delas, por exemplo, vítima duma relação mantida com um professor, abortou —, que o espectador é levado a observar uma espécie de cocktail de culturas, onde a realidade, crua e dura, se esconde atrás de Comportamentos e Atitudes plásticos e Cocktails e Pina Coladas. Atrás das luzes, da música latina A Vida é Louca, das bebidas coloridas. O resultado é uma mistura do Cómico e do Grotesco. Do Risível e do Trágico.”

“Talvez, por isso, a um dado passo da acção e no piscar de olhos dessa noite frenética, os monólogos de cada uma empregadas ganhem um sentido diferente, de alguma contundência…”, frisa ainda o encenador.

Actrizes conhecidas do Grande Público Português dão a cara a SHAKERS

Quatro actrizes que marcaram presença nas telenovelas portuguesas mais vistas no país, Os Batanetes, Morangos com Açúcar, Ana e os 7 e Mistura Fina, respectivamente Inês Castel- Branco, Joana Seixas, Marina Albuquerque e Custódia Gallego, estão prontas a deixar marca em Shakers.

Trata-se, antes de mais, de um enorme desafio, o trabalho de actor que é exigido a cada uma delas. Protagonizar uma peça dirigida a um público heterogéneo, em particular aos jovens, trabalhando uma média de seis a sete personagens a um ritmo intenso, é a proposta. Somando ainda o facto de terem todas idades diferentes.

Para Inês Castelo Branco (22 anos), com seis novelas e três peças no seu jovem currículo, trabalhar com actrizes de outras gerações é revelador. “É de uma grande exigência. O que se torna útil, sobretudo em Shakers, uma vez que o trabalho de actor proposto é complexo e variado.” Para adiantar: “È muito gratificante a construção dum personagem no teatro. Neste ponto, Shakers é também uma revelação”.

Quanto a Joana Seixas (28 anos), actriz há quase uma década, com maior formação na área do teatro, o trabalho proposto em Shakers é também de uma enorme exigência. “É um espectáculo puro de actor. Somos nós que temos de criar todos os personagens, ao mesmo tempo que recriar todos os ambientes. É um trabalho sem rede.” Para concluir: ”Como, em Portugal, está mal explorada a comédia no feminino, esperemos que o trabalho deste quarteto possa acrescentar, de facto, alguma coisa nesta área...”

Há 12 anos que Marina Albuquerque (36 anos), com o Conservatório de Teatro, se desdobra como actriz nas inúmeras propostas que lhe vão surgindo, desde o Teatro à Televisão. De acordo com a actriz, “Shakers é uma proposta pouco óbvia e, por outro lado, simples, o que permite um trabalho fantástico de actor. Do ponto de vista da dramaturgia, é bem articulado. Trabalhar em vários registos dentro da mesma peça, é, em si mesmo, um grande desafio.”. Para adiantar: “A forma como se vive, o desemprego, a falta dos afectos, a insegurança financeira, a fragilidade das pessoas, a forma como as pessoas se relacionam, tudo isto, em Shakers, é explorado com base no trabalho multifacetado do actor.”

“Encenador com óptima visão, Almeno Gonçalves dá-nos inteira liberdade de representação. Para encontrar o que em nós há de melhor”, frisa ainda a actriz.

Custódia Gallego (45 anos) também fez o Conservatório de Teatro. Trabalha com alguma regularidade desde 84, entre primeiramente o teatro e a televisão, depois. “O teatro vai de boa saúde, em relação à criatividade. As propostas artísticas aumentam, apesar de o mesmo não acontecer em relação aos apoios. No que toca a Shakers, a proposta é, claro, também de uma grande criatividade, existindo um investimento muito grande no trabalho de actor”, comenta a actriz. E prossegue: “Em Shakers, os textos de comédia parecem ser fáceis e directos, não sendo necessário investir na participação do público. No entanto, acabam também por necessitar duma partilha intelectual por parte desse mesmo público. É um paradoxo. Mas por isso mesmo estimulante.”

Para rematar: “O Bar Shakers, como tantos outros na noite e, por isso, muito actual, é uma espécie de cadeira do psiquiatra. Onde se sentam as pessoas mais variadas. Pessoas anónimas. Pessoas sós. Alienadas. Pessoas frenéticas, cheias de energia, parecendo ser obrigatório divertirem-se. Ou quatro jovens empregadas que, de vez em quando também param para fazer uma avaliação do que é a vida delas.”

Shakers de John Godber e Jane Thornton; Enc. Almeno Gonçalves; Prod. Sola do Sapato

Estreia 31 de Março; Em cena até Maio; Qui. — Sáb. 21:30h; Dom. 17:00h
Casino do Estoril Reservas * 21 466 77 00 * Fax 21 466 79 65.

Comentário

Que dizer desta peça...
Ao entramos na sala somos de imediato recebidos pelas quatro empregadas de serviço, numa tentativa de criar , desde logo, uma empatia com o público. Ficou pela mera intenção...talvez a culpa fosse do público, pouco receptivo ..ou talvez não...
De qualquer forma o convite fica feito: Bem vindos ao Mundo da noite... bem vindos ao Shakers.
Assim se pode resumir esta peça...que ficou muito aquém daquilo a que o próprio encenador se propôs.
“É um espectáculo puro de actor. Somos nós que temos de criar todos os personagens, ao mesmo tempo que recriar todos os ambientes»;
Do ponto de vista da dramaturgia, é bem articulado. Trabalhar em vários registos dentro da mesma peça, é, em si mesmo, um grande desafio.”. Para adiantar: “A forma como se vive, o desemprego, a falta dos afectos, a insegurança financeira, a fragilidade das pessoas, a forma como as pessoas se relacionam, tudo isto, em Shakers, é explorado com base no trabalho multifacetado do actor.”
Assim definiram Joana Seixas e Marina Albuquerque os desafios que esta peça. lhes colocava , enquanto actrizes. E de facto este era um enorme desafio.
Mas de uma forma geral as quatro actrizes em palco não estiveram á altura do mesmo, nomeadamente num registo mais dramático.
Como consequência, a “ mistura entre o Cómico e o grotesco “ tal como idealizada pelo encenador esteve longe de ser conseguida. Isto porque quanto aos elementos cómicos e particularmente quanto á caricaturização de alguns personagens que “povoam a noite” nada a apontar – foram momentos bem conseguidos. Contudo, nada mais que isso: a abordagem foi superficial e unidimensional:, nada se conseguindo vislumbrar por detrás dos cocktails, da musica e dos comportamentos sociais estereotipados.
Os monólogos das actrizes - em que estas relatam os seus problemas pessoais, manifestando o seu lado mais humano deixando cair a máscara do sorriso - além de muitas vezes desprovidos de qualquer carga emocional e intensidade dramática, surgem como que abruptamente, contribuindo assim para uma óbvia quebra de ritmo.
Esta contrastaria com o compasso frenético , alucinante da noite. Contudo, neste campo houve uma clara falta de sentido de ritmo. O público não é de forma alguma “sugado” na espiral de loucura que o ambiente da noite pressupunha e que o encenador se propôs relatar.

Assim, Shakers é apenas mais uma comédia, a quem o rótulo de espectáculo pouco ambicioso assenta na perfeição (melhor até do que de despojado),quer em termos de cenário e adereços quer mesmo ao nível da musica e luzes.

Paula

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